terça-feira, 12 de setembro de 2017

Adeus ao guerreiro: artigo do professor e sociólogo Thiago Anacé traduz toda emoção da despedida

Adeus, Guerreiro de Caucaia! A Banda tocou e a cidade parou. A música tinha “beleza, poder e faculdade de comover”. Soou como tantas outras vezes, mas o sentimento que evocou não foi de alegria. A melodia foi acompanhada pelo barulho destoante da sirene do carro dos Bombeiros. Ela alardeava pelas ruas da cidade que o Guerreiro repousava em seu silente ataúde.
A harmoniosa banda tocou e foi acompanhada não ritmicamente pelas palmas tristes e inconsoláveis do povo, que a tudo assistia descrente, pois mesmo a morte sendo uma das poucas certezas que temos, nunca iremos estar suficientemente preparados para lidarmos com ela.
Era verdade que nem todos aplaudiam. Os vereadores estavam com as mãos ocupadas carregando o esquife. Um gesto que mostrou nobreza e o quanto o momento era maior que qualquer divergência político-partidária. Eles conduziram Eduardo Pessoa para a sua última sessão na Câmara dos Vereadores de Caucaia. Não foi uma sessão Ordinária ou Extraordinária, como tantas vezes ele presidiu naquela Casa, mas uma Sessão Solene! Sem “apartes”, “questão de ordem”, “Vossa Excelência”, “Ordem do Dia”, “Requerimentos, Projetos de Lei ou Indicação”, “Pequeno ou Grande Expediente”, “discursos de oposição ou situação” e outras formalidades rotineiras.
Sessão marcada pela dor da despedida e que em seu teor expressou a digna e honrada homenagem. Os discursos emocionados, as lágrimas incontidas, as lágrimas reprimidas, as lembranças evocadas, o plenário apertado, a família enlutada, os amigos desolados, os políticos azoinados, a história de vida invocada como exemplo, as dezenas de coroas de flores, enfim, tantos outros elementos ali presentes, projetaram ainda mais a figura do Guerreiro Querido de Caucaia.
O silêncio respeitoso do Prefeito foi de extrema grandeza. Ecoou prolixamente pelo plenário que não era um momento político, mas uma ocasião de consternação, onde a boa política, sempre praticada por Eduardo Pessoa, estava perdendo um de seus vassalos mais fiéis. O Silêncio falou sobre a humildade e humanidade do Chefe do Executivo, que reconheceu, em meio a colossal amargura, que ali estava um ser humano e uma família enlutada, e que independente da sigla partidária ou ranhuras de pleitos passados, a dignidade e a ética, tão escassos no meio político, ainda encontram espaços entre os que se permitem serem maiores que os ‘vícios’ politiqueiros.
Aliás, o sentimento de perda era evidente. Para além da dolente perda do filho, do pai, do esposo, do irmão, do companheiro, do amigo, do aliado, Caucaia perdeu um proeminente político. O “Menino da Carauçanga”, ali inerte naquela Sessão, contrastava com a sua ininterrupta e consistente ação social, comunitária e política.
O luto oficial declarado e publicado não é suficiente para competir com o luto eterno e afetuoso do povo. A pequenez do plenário não é suficiente para grandeza do Guerreiro. A força da Guarda Municipal não foi suficiente para conter o desejo do povo de se despedir.
De todos os discursos articulados o mais intenso foi, sem sombras de dúvidas, o da irmã e vereadora Emília Pessoa. Seu rosto debelava o pranto e a tristeza, mas seu olhar também era altivo e ciente que os ideais que Eduardo usava para balizar a sua vida, além de imortais, serão norteadores de sua protuberante trajetória de existência. Adeus, Guerreiro de Caucaia! Que sua dignidade e exemplo nos motive a encontrarmos a força necessária para lidarmos com a sua precoce partida.

Prof. Thiago Halley Indígena Anacé, Pedagogo e Sociólogo - UECE
Assessor Parlamentar do Mandato Popular Weibe Tapeba

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